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Quem é o autor? Qual a sua definição? Com este trabalho pretendo levantar uma questão em torno da identificação do autor e como tal abordagem pode ser realizada numa participação democrática entre diferentes pessoas. Poderia, de uma forma acutilante, colocar a questão “O que é a representação?” contudo, e este é um dos conceitos que pretendo aprofundar neste trabalho, é minha intenção abordar o autor e a forma como se contamina e é contaminado no seu processo de trabalho. Estamos, assim, perante uma interpelação estética e conceptual em directa relação com a ideia de autor e a sua importância.
Interessa-me, nesta perspetiva, perceber de que forma, hoje, posso encontrar, através do meu percurso artístico, uma forma de jogar entre o outro representado, o outro que me representa, o outro que se representa e a gestão da “auto- documentação”. Caminhos díspares que pretendo aglomerar.
Pergunto-me, várias vezes, se esta questão é possível de ser “imaginada”, e ao mesmo tempo, passar para uma plataforma expositiva, num processo autónomo com um “descontrolo saudável”. O descontrolo, enquanto forma livre de descobrir o outro, mesmo com implicações, no que remete a um pedido, ao pensar como o outro pode fugir das diretivas tendo em conta que a sua presença é a fundamentação da cada imagem. Quando falo em presença, não penso apenas o corpo no enquadramento mas também o corpo no espaço enquanto ação documental. Aqui, procuro um espaço fora do mecanismo mas onde este está tangente.
“O direito disse-o a seu modo: a quem pertence a fotografia? Ao sujeito (fotografado)? Ao fotógrafo?” (Barthes, 1980: 21) . Com esta citação posso acrescentar esta questão, que pretendo trabalhar, ou seja, a quem pertence o ato fotográfico e a imagem fotográfica?
Posso indicar razões “primárias” para a intenção e posso até pensar todo este processo como a passagem do ego para o rizoma.
Esta pesquisa não parte apenas de uma procura de imagens. Existe uma vontade de adquirir (apropriar) as mesmas, de poder pensá-las no seu conjunto. Organização e seleção.
A documentação é algo que me acompanha. Quase como se pudesse trabalhar conteúdos que vão entre o processo de Carlos Relvas e a imagética de Sophie Calle. São “intenções díspares”. Contudo, ambos se lançaram numa reflexão sobre o mesmo conceito: a representação. Interessa-me encontrar nos dois o que está antes, entre e depois. O arquivo. Quero adquirir e arquivar imagens.
De todas estas reflexões emanam os processos que apresento ao longo do projeto. Diferentes momentos de trabalho e diferentes formas de adquirir e completar, ligadas pela postura que emprego na intenção de ligar e editar mentalmente um processo de registo.
O outro documenta-se. A partir daqui eu dedico, ao trabalho, a minha perspetiva. É, desde o pedido dirijo, que faço três propostas que são uma triangulação entre o que pretendo receber e o que anseio praticar. Estas fases são essenciais pois é, a partir daqui, que me penso a partir de algo. Numa primeira frase deste processo pessoal pretendo realizar uma abordagem a um elemento do meu corpo. Uma estrutura entre antropomorfia e a ideia de cânone representativo. Escolho um pormenor do meu corpo, fechado, que, sendo abstrato, foge de mim. Ainda assim é parte daquilo que represento.Na segunda fase, a realização de uma performance onde serei atingido fisicamente, enquanto leio, por um outro autor. Quantas vezes estamos a realizar uma leitura e somos atingidos intelectualmente, deixando uma marca no processo de trabalho, um punctum? Nesta fase, parte do trabalho pode ser feito pelo espectador que estará possibilitado de fotografar. Na terceira fase, fecho-me entre o mecanismo e a representação. Quero, a partir de tudo que foi pensado, realizar uma série de imagens que sejam um fecho, ainda que um pouco aberto, de tudo que vi e de como a metamorfose do processo me leva a construir algo. Serão momentos de reflexão acerca da autorrepresentação. Como vejo? Como vemos? O que penso?