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Tudo começa por uma massa autoral que sentiu a necessidade documentar o trabalho de um bairro que realizava anualmente uma festa, o S. João, onde todos os momentos de preparação adquirem grande importância, pois revela-se como acontece o dia-a-dia de cada indivíduo que faz parte deste movimento.

Esta documentação surgiu da necessidade de se realizar um filme sobre este assunto, e ao mesmo tempo como a fotografia faria parte neste processo de documentação. O filme realizado por Miguel Arieira, entrava em diálogo comigo, a equipa dialogava sobre como iríamos habitar aquele espaço, poder estar dentro do que era o processo da construção do grupo a documentar. Este trabalho é uma nova abordagem no meu processo e percurso de trabalho, na forma de ver o acto documental. Assim, a minha preocupação passa pela ideia de uma história contada através da imagem fotográfica.

Aqui, não entendo o processo fotográfico como um dos únicos objectivos, pois o trabalho de campo, exigente, fez-me criar uma ligação muito forte com o que iria documentar e com os seus protagonistas. De repente o trabalho fotográfico passa a ter para o meu processo de trabalho factores sociais e antropológicos. Contudo a ideia de ir além da documentação é muito constante, isto com a criação de imagens com três pontos essenciais: Tempo, Terra e Pessoas. 

Revela-se ao longo de todo o trabalho a ideia de uma imagem, ou várias, poderem contar ou questionar mais do que a sua concretização narrativa. Interessa perceber que a partir de um certo momento estou “dentro” da estrutura social, que faço parte das actividades, pois passo a ser uma personagem da camada de trabalho que se cria. Assim, a ideia do conjunto de fotografias que podem transportar uma cronologia intacta, intocável e coleccionáveis.

João Gigante, 2015