MORTO SEM TIRO 1972-2016

Numa pesquisa entre a memória, a viagem e a fronteira são muitos os pontos que nos propendem para uma construção narrativa entre aquilo que observamos e aquilo que podemos construir. Assim, estas três imagens são apresentadas, neste momento, como um dano colateral, parte de uma investigação que decorre há um ano.

A forma como percorremos a memória leva-nos a relações de abstratização sobre aquilo que vemos e aquilo que pretendemos criar. É neste limbo entre o imaterial materializado que as propostas se vão construindo. Falar de memória é escrever sobre algo que se predispõe a ser construído, o autor assim o pode decidir.

Em 1971 existe uma viagem para França, uma emigração clandestina, forçada. Em 1972 acontece a segunda viagem. Em 1974 a última. Esta é a base da investigação, contudo estas três imagens assentam sobre outras perspetivas, decorrem sobre o material fotográfico encontrado e a sua manipulação hoje. Contudo, para inscrever e descrever não basta pensar o concreto da imagem, é necessário encontrar as camadas da sua construção.

Numa viagem entre diversos lugares, podendo ser estes físicos ou não, percebemos que a ideia de percurso é tão ampla que nos sentimos preparados para recolher e arquivar um conjunto de emoções. Nesta viagem pela memória é indubitável pensar o território e a sua ambivalência estética e discursiva. O território é aqui parte da metaforização da viagem. A sua documentação torna-se uma referência para uma interpretação da sua forma e do seu desenho. Com isto pretende-se pensar que o desenho do território é tão real como a forma de uma nuvem. O lugar, o estar no lugar, faz com que os trajetos se construam a nosso favor. O território e a sua representação com interpretação da viagem, entre a memória e sua reconstrução. É dentro destes conceitos que o projeto se apresenta como uma resolução hoje, uma proposta para aquilo que poderia ser um percurso sobre um lugar desconhecido.

Nestas imagens são diversas as camadas, estas que se descrevem visualmente, e que vivem da sua intenção enquanto elemento discursivo. Falar do território e da sua manipulação, para a criação de um sentido imagético, um sentido lato para a possível reconstrução do meu lugar hoje.